Oferecer outro coração a quem já tem um coração

Por João Pedro Mésseder

Sempre me tocaram fundo as histórias de professores inesquecíveis. A do que acendeu as luzes das primeiras letras e transportou com mão segura os seus alunos da meninice à idade de se tornarem mulherzinhas, homenzinhos...

A da professora de voz meiga, mas firme, impecável dicção e palavras de encorajamento, que ensinou tantos a amar a língua portuguesa e a usá-la o melhor possível, na escrita e na oralidade. A do mestre de Matemática que de repente acendeu outras luzes: a das equações e a da geometria, em toda a sua beleza. A do professor de História que levava os adolescentes a viajar no espaço e no tempo e a conhecer mundo. A da professora de Alemão com quem se aprendia, em dias sombrios, a resistir às adversidades e a lutar por valores democráticos e pela justiça social. A da professora que amava os livros e a literatura e que, sem o saber nem fazer uso de elogios desmedidos, formou leitores e escritores até…

Mas depois chegava a que poderia não se apresentar como grande sábia da sua ciência, mas que era, isso sim, sábia da vida, capaz de estimular cada um a aprender por si e a crescer, a pensar no outro e a dar valor à sua passagem pelo mundo. Ou o professor cujas palavras e modulações de voz e de pronúncia punham sempre os alunos a sorrir e, não raro, a gargalhar. Ou ainda o que se distinguia pelo porte, pela discrição e pelo bom gosto do vestir, pela clareza da exposição e da voz, e pela sensibilidade estética (expor bem será sempre uma grande arte que é preciso aprender a dominar, não substituível pelas tecnologias). Ah, e aquele que, em pleno inverno, fazia as aulas de Educação Física na piscina aquecida da escola secundária para gáudio da miudagem (sim, há escolas secundárias públicas que possuem piscina coberta!). E havia a professora de origem africana e o ilhéu, o transmontano e a do Alentejo, para não falar da algarvia….

Quanta variedade dialetal e de culturas! Professores que às vezes eram músicos ou escritores, artistas visuais ou do teatro amador, ou então com a paixão pela vida natural: dos animais, das plantas, das rochas (sim, que as pedras têm vida)…

Muitas vezes, mesmo oculto por certa secura ou timidez, pressentia-se um coração. Outros havia que quase o tinham, o têm, à flor do rosto, à flor da voz.

É por isso que, no Dia Mundial do Professor, construir um coração para oferecer a uma professora, a um professor será sempre um gesto de humanidade e de respeito, um gesto de paz e de muito apreço.

Nenhuma comunidade humana é digna de tal nome, se não prezar e valorizar os seus professores.